segunda-feira, 22 de junho de 2009

Os Desafios Enfrentados na Contemporaneidade e as Perspectivas da Construção de Uma Educação Libertadora




Muitos são os desafios enfrentados na contemporaneidade. As mudanças sociais que ocorrem atualmente têm conseqüências e efeitos diferenciados entre várias gerações.
A infância enquanto categoria social geracional, sofre essas conseqüências de modo particular. Um dos desafios maiores é o fato de que ela está cada vez mais virtualizada. Devido ao fato da tecnologia atingir os anseios das crianças, surge o que Richard Thieme chama de homo zappiens, ou seja a geração digital, que já nasce em um contexto em que as informações estão disponíveis a quase todas as pessoas. Porém essa geração considera a escola muito monótona e o conteúdo é ensinado de maneira que não atinge o interesse da criança.
Como afirma THIEME,
Além da questão do conteúdo, as salas de aulass feitas de “giz e voz” não são interessantes para o homo zappiens. São aulas que contrastam muito com o seu modo de ser. O contraste é muito grande para com a sua vida fora da escola, em que ele tem controle sobre as coisas, há conectividade, média, ação imersão e redes. Como aprendiz na escola, ele se sente forçado a ser passivo e a ouvir o que o professor explica. (p.47)
[1]

Isso também mostra que a geração atual já nasce sendo induzida a consumir, a comprar mais do que precisa através da exposição que tem às informações.
Essa tendência é provocada pelo neoliberalismo no qual as pessoas são consumistas e competidoras, tudo em busca do lucro. E por falar em lucro pode-se destacar o efeito causado na sociedade.
APPLE em seu texto Consumindo o outro: Branquidade, educação e batatas fritas baratas
[2], mostra a riqueza de poucos contrapondo a miséria de milhões. Enquanto os poucos ricos buscam a lucratividade a qualquer preço, estão “retirando pessoas da terra, causando sua ida para as favelas e negando a seus filhos cuidados médicos e escolas” (p.37).
Frei Beto
[3] também afirma sobre os desafios da contemporaneidade, “o neoliberalismo mercantilizou serviços essenciais como, os sistemas de saúde e educação, fornecimento de água e energia”.
O neoliberalismo transformou tudo em um grande mercado. Nem mesmo a saúde e a educação foram preservadas de serem usadas como meios de enriquecimento.
No que tange a educação pode-se ver que até mesmo os países de primeiro mundo passaram a avaliar as escolas a partir daquilo que elas produzem, fato este que vem ameaçando de extinção os cursos pedagógicos, tudo em nome da especificidade da área de conhecimento, ou seja, do domínio dos conteúdos específicos. Pois assim, a educação deverá se manter ligada aos interesses do sistema.
Assim, a política implantada como salvação do mundo trouxe muitas conseqüências sociais, políticas e culturais. O resultado dessa concentração de riquezas nas mãos dos poderosos, tem causado o crescimento do desemprego e consequentemente o analfabetismo.

Na América Latina temos mais de 75 milhões de crianças incapacitadas para o estudo hoje e para o trabalho amanhã. Das crianças latino americanas que conseguem chegar à escola, de cada 10 apenas 5,5 chegam ao final da quarta série. (GARCIA, p.154)
[4]

E isso gera ainda a exclusão e marginalização dessas pessoas analfabetas e semi-analfabetas na sociedade.
O que parece irônico é que enquanto a sociedade sofre essas conseqüências o discurso neoliberal enfatiza a todo tempo a importância de uma escola de qualidade. “Isso porque é indispensável que a educação atenda aos objetivos empresariais de preparação adequada para o trabalho com vistas à competitividade do mercado internacional”(GARCIA, p.161).
Desta forma o neoliberalismo vem privatizando o conhecimento. O que prepara as pessoas para se enquadrarem em seus padrões, deixando de ser questionadoras e agentes do mundo que estão inseridas, mas apenas concordantes do que lhes é imposto.

No Brasil a grande maioria é preparada para, sendo analfabeta, torna-se mais vulnerável à manipulação da televisão, e ver condenada às piores oportunidades de trabalho, quando chega a conseguir emprego, pois hoje a maioria dos analfabetos se coloca no subemprego ou destinada ao desemprego. (GARCIA, p. 167)

E isso é o principal fator que vem impedindo as pessoas de serem sujeitos do conhecimento e as têm tornado meros ouvintes.
É preciso romper com esse sistema injusto do qual uns são vistos como menos incapazes e com menos mérito que outros.
Paulo Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia mostra que a educação pode romper com esse pensamento que aprisiona e rotula ao invés de libertar. Mas para isso é preciso desenvolver os saberes necessários à prática educativa e transformar a escola no principal lugar onde as pessoas aprendem a ser sujeitos de sua própria realidade e atuantes no mundo em que vivem.
Os saberes apresentados por Paulo Freire mostram que uma educação libertadora começa com uma nova postura, na qual o educador deve primeiro se qualificar e tornar-se um pesquisador. Alguém que investigue as necessidades do contexto sociocultural e educacional a fim de entender qual o método eficaz para tornar os educandos sujeitos de sua aprendizagem. Reconhecer-se como seres inacabados e ensinar pelo exemplo, também são fatores essenciais para o educador, isso é ter coerência entre o discurso e a ação com o intuito de levar outros a terem o mesmo comportamento e não serem incongruentes.
Outro saber necessário à prática educativa é promover a autonomia do educando, despertando-lhe a curiosidade, ensinando de maneira que motive o interesse pelo que é transmitido e tenha plena compreensão do conhecimento.
Paulo Freire deixou, com certeza um legado enriquecido de valores e princípios que devem ser seguidos na educação em qualquer época. São princípios que jamais envelhecerão. Mas Paulo Freire também quis deixar uma proposta para que, em qualquer tempo, os educadores, pudessem refletir e analisar as necessidades e desafios de acordo com a cultura, o lugar e momento, e buscassem um método educacional eficaz para a sua época, que fosse capaz de não apenas informar, mas transformar.
Dentro da temática proposta em Seminário Interdisciplinar III, pode-se afirmar que as disciplinas interagiram com o tema e objetivaram trazer aos alunos um preparo e qualificação maior para a docência. Dentre as disciplinas, pode-se citar os desafios da educação infantil apresentados na disciplina de Fundamentos da Educação Infantil; a criatividade sugerida em Arte e Educação; os esclarecimentos da Educação de Jovens e Adultos; a didática e recursos audiovisuais da disciplina de Cultura Midiática e Educação, enfim, muitos outros conhecimentos e experiências adquiridas em sala de aula e também no estágio nas escolas.
Assim, o conteúdo estudado com terceiro período de Pedagogia, foi relevante, promovendo a reflexão, discussão em debates e o preparo teórico e prático a fim de buscar uma educação que faça a diferença em nossa geração, que rompa com os prejuízos causados por um sistema egoísta que visa apenas o enriquecimento de poucos enquanto muitos estão sendo excluídos até mesmo privados de serem agentes transformadores do mundo em que vivem. Como Paulo Freire disse: “é difícil, mas não é impossível!” Portanto, é necessário que, como educadores, façamos o melhor.

Referências Bibliográficas

· COSTA, Marisa Vorraber. Escola Básica na Virada do Século – Cultura, Política e Currículo. 3ª edição. Ed. Cortez
· THIEME, Richard. Conhecendo o Homo Zappiens.

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