domingo, 14 de junho de 2009

UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA

Análise do livro Pedagogia da Autonomia
Tema do terceiro período: “A Instituição escolar na contemporaneidade”
O livro Pedagogia da Autonomia, cujo autor é Paulo Freire, nos revela de forma atualizada, criativa, provocativa, corajosa e esperançosa questões do cotidiano do professor na sala de aula. Mas seria como se não tivéssemos um alicerce, uma base falarmos da pedagogia pregada por Freire sem sabermos quem é Paulo Freire.
Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921 em Recife, no nordeste do Brasil, e faleceu em 2 de maio de 1997 em São Paulo.
Como estudioso, ativista social e trabalhador cultural, Freire desenvolveu, mais do que uma prática de alfabetização, uma pedagogia crítico libertadora.
Em sua proposta, o ato de conhecimento tem como pressuposto fundamental a cultura do educando; não para cristalizá-la, mas como ”ponto de partida” para que ele avance na leitura do mundo, compreendendo-se como sujeito da história.
É através da relação dialógica que se consolida a educação como prática da liberdade. Em sua primeira experiência, em 1963, Freire ensinou 300 adultos a ler e escrever em 45 dias. Esse método foi adotado em Pernambuco, um estado produtor de cana de açúcar. O trabalho de Freire com os pobres e, internacionalmente aclamado, teve início no final da década de 40 e continuou de forma ininterrupta até 1964.
No começo de 1964, foi convidado pelo presidente João Goulart para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. Logo após o golpe militar, o método de alfabetização de Paulo Freire foi considerado uma ameaça à ordem, pelos militares. Então foi exilado e viveu no exílio no Chile e na Suíça, onde continuou produzindo conhecimento na área de educação. Uma de suas principais obras nesta época foi Pedagogia do Oprimido, lançada em 1969, nela Paulo Freire detalha seu método de alfabetização de adultos. Retornou ao Brasil no ano de 1979, após a Lei da Anistia.
Paulo Freire (1921-1997) representa um dos maiores e mais significantes educadores do século XX. Sua pedagogia mostra um novo caminho para a relação entre educadores e educandos. Caminho este que, consolida uma proposta político pedagógica elegendo educador e educando como sujeitos do processo de construção do conhecimento mediatizados pelo mundo, visando à transformação social e construção de uma sociedade justa, democrática e igualitária..
Na América do Sul, Europa, África, América do Norte e Central, suas idéias revolucionaram o pensamento pedagógico universal, estimulando a prática educativa de movimentos e organizações de diversas naturezas.
Três filosofias marcaram sucessivamente a obra de Paulo Freire: o existencialismo, a fenomenologia e o marxismo sem, no entanto adotar uma posição ortodoxa. Seu pensamento rompeu a relação cristalizadora de dominação, buscando pensar a realidade dentro do universo do educando, construindo a prática educacional considerando a linguagem e a história da coletividade elementos essenciais dessa prática.
Em Paulo Freire vida, pensamento e obra se juntam. Pensa a realidade e a ação sobre ela, trabalhando teoricamente a partir dela. Segundo ele, as questões e problemas principais de educação não são só questões pedagógicas, ao contrário, são políticas. Sua proposta, a pedagogia crítica, como práxis cultural contribui para revelar a ideologia encoberta na consciência das pessoas. Seu trabalho revela dedicação e coerência aliada à convicção de luta por uma sociedade justa, voltada para o processo permanente de humanização entre as pessoas onde ninguém é excluído ou posto à margem da vida. Paulo Freire provou que é possível educar para responder aos desafios da sociedade, neste sentido a educação deve ser um instrumento de transformação global do homem e da sociedade, tendo como essência a dialogicidade
Creio que é preciso, mesmo que numa biografia, fazer algumas considerações sobre o "Método Paulo Freire" uma vez que ele é ainda muito utilizado, com algumas
adaptações, nos dias de hoje em todo o mundo, e quase sempre ao falar-se de Freire e alfabetização, a compreensão desta é reduzida a puro conjunto de técnicas ligadas à aprendizagem da leitura e da escrita. É preciso deixar este ponto mais claro para, sobretudo, quem se inicia em Freire.
O "convite" de Freire ao alfabetizando adulto é, inicialmente, para que ele se veja enquanto homem ou mulher vivendo e produzindo em determinada sociedade. Convida o analfabeto a sair da apatia e do conformismo de "demitido da vida" em que quase sempre se encontra e desafia-o a compreender que ele próprio é também um fazedor de cultura, fazendo-o apreender o conceito antropológico de cultura. O "ser-menos" das camadas populares é trabalhado para não ser entendido como desígnio divino ou sina, mas como determinação do contexto econômico- político ideológico da sociedade em que vivem.
Quando o homem e a mulher se percebem como fazedores de cultura, está vencido, ou quase vencido, o primeiro passo para sentirem a importância, a necessidade e a possibilidade de se apropriarem da leitura e da escrita. Estão alfabetizando-se, politicamente falando.
Os participantes do "círculo de cultura", em diálogo sobre o objeto a ser conhecido e sobre a representação da realidade a ser decodificada, respondem às questões provocadas pelo coordenador do grupo, aprofundando suas leituras do mundo. O debate que surge daí possibilita uma re-leitura da realidade de que pode resultar o engajamento do alfabetizando em práticas políticas com vista à transformação da sociedade.
Quê? Por quê? Como? Para quê? Por quem? Para quem? Contra quê? Contra quem? A favor de quem? A favor de quê? - são perguntas que provocam os alfabetizandos em torno da substantividade das coisas, da razão de ser delas, de suas finalidades, do modo como se fazem, etc.
As atividades de alfabetização exigem a pesquisa do que Freire chama "universo vocabular mínimo" entre os alfabetizandos. É trabalhando este universo que se escolhem as palavras que farão parte do programa. Estas palavras , mais ou menos dezessete, chamadas "palavras geradoras", devem ser palavras de grande riqueza fonêmica e colocadas, necessariamente, em ordem crescente das menores para as maiores dificuldades fonéticas, lidas dentro do contexto mais amplo da vida dos alfabetizandos e da linguagem local, que por isso mesmo é também nacional.
A decodificação da palavra escrita, que vem em seguida à decodificação da situação existencial codificada, compreende alguns passos que devem, rigorosamente se suceder.
Tomemos a palavra TIJOLO, usada como a primeira palavra em Brasília, nos anos 60, escolhida por ser uma cidade em construção, para facilitar o entendimento do (a) leitor (a).
1º.) Apresenta-se a palavra geradora "tijolo" inserida na representação de uma situação concreta: homens trabalhando numa construção;
2º.) Escreve-se simplesmente a palavra TIJOLO
3º.) Escreve-se a mesma palavra com as sílabas separadas: TI - JO - LO
4º.) Apresenta-se a "família fonêmica" da primeira sílaba: TA - TE - TI - TO - TU
5º.) Apresenta-se a "família fonêmica" da segunda sílaba: JA - JE - JI - JO - JU
6º.) Apresenta-se a "família fonêmica" da terceira sílaba : LA - LE - LI - LO - LU
7º.) Apresentam-se as "famílias fonêmicas" da palavra que está sendo decodificada:
TA - TE - TI - TO - TU
JA - JE - JI - JO - JU
LA - LE - LI - LO - LU
Este conjunto das "famílias fonêmicas" da palavra geradora foi denominado de "ficha de descoberta" pois ele propicia ao alfabetizando juntar os "pedaços", isto é, fazer dessas sílabas novas combinações fonêmicas que necessariamente devem formar palavras da língua portuguesa.
8º.) Apresentam-se as vogais : A - E - I - O - U .
Em síntese, no momento em que o (a) alfabetizando (a) consegue, articulando as sílabas, formar palavras, ele ou ela, está alfabetizado (a). O processo requer, evidentemente, aprofundamento, ou seja, a pós-alfabetização. A eficácia e validade do "Método" consistem em partir da realidade do alfabetizando, do que ele já conhece, do valor pragmático das coisas e fatos de sua vida cotidiana, de suas situações existenciais. Respeitando o senso comum e dele partindo, Freire propõe a sua superação.
O "Método" obedece às normas metodológicas e lingüísticas, mas vai além delas, porque desafia o homem e a mulher que se alfabetizam a se apropriarem do código escrito e a se politizarem, tendo uma visão de totalidade da linguagem e do mundo.
O "Método" nega a mera repetição alienada e alienante de frases, palavras e sílabas, ao propor aos alfabetizandos "ler o mundo" e "ler a palavra", leituras, aliás, como enfatiza Freire, indissociáveis. Daí ter vindo se posicionando contra as cartilhas.
Em suma, o trabalho de Paulo Freire é mais do que um método que alfabetiza, é uma ampla e profunda compreensão da educação que tem como cerne de suas preocupações a sua natureza política.
Em Pedagogia da Autonomia, Freire nos revela sua educação libertadora, na qual o educando constrói seu próprio conhecimento instigado pela dúvida e questionamento que o professor lhe proporciona. Logo nas primeiras páginas do livro , Freire nos leva a refletir sobre sua critica e recusa a educação “bancária”, pois neste contexto à educação é um ato de depositar, transferir, transmitir conhecimento e valores, e nesta visão os homens são vistos como sujeitos da adaptação, do ajustamento. Já a educação libertadora, consiste em problematizar, para que o aluno possa resolver, e o professore o mediador do conhecimento, pois enquanto educa é educado através dos diálogos com o educando, assim ambos tornam sujeitos do processo de aprendizagem em que crescem juntos e em que os argumentos de autoridade já não valem, por isso “ninguém é sujeito da autoridade de ninguém”.
Paulo Freire também nos revela várias práticas dos saberes necessários para sermos bons professores:
O professor precisa despertar a curiosidade, na qual o educando pesquise para constatar ou adquirir determinado conhecimento. Desde a educação infantil é preciso despertar na criança a curiosidade e criatividade, começando pelos ambientes que a cerca, pois não há curiosidade sem criatividade.
O professor deve aproveitar o conhecimento que o educando já possui para a partir dele formar nossos conhecimentos, hábitos e culturas trazidas pelo aluno em sala de aula. Isso também inclui o respeito às diferenças econômicas e raciais.
É necessário que o professor seja coerente com que ensina, aliando prática do cotidiano com seu ensinamento, com isso não caíra em contradição.
O educador deve sempre fazer uma reflexão critica sobre sua prática pedagógica, visando melhora-la, sendo fundamental o respeito e aceitação do novo.


“Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-critica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar”. (FREIRE,2008,p.41)


Em todo seu livro Freire fala no “pensar certo”, este ato consiste em saber que ensinar não é transferir conhecimento, o educador precisa levar o educando a pensar e refletir como sujeito na sociedade e no mundo capaz de modificá-la. O educador também precisa ficar atento, pois o conhecimento é inacabado, é necessário mudarmos as formas de se mediar esses saberes para que não cometemos o erro de se transmitir o mesmo conhecimento de geração a geração, como também nos afirma Pedro Demo em uma entrevista a revista nova escola.
A realidade da instituição escolar na contemporaneidade infelizmente não é a mesma que nos deslumbramos em Pedagogia da Autonomia e em vários outros livros de Freire. Educadores cada vez mais insatisfeitos com a desvalorização profissional, péssimos salário, má condição de trabalho agregado aos nossos governantes, estão em sala de aula. O professor é visto como “coitado” e sua educação se tornou algo de generosidade e ao mesmo tempo obrigação.


“A educação constitui um processo que se configura como tal no núcleo de relações de poder que atuam dentro de uma lógica reprodutiva de caráter diferencial, de dominação de classe, gênero e raça.”(GENTILI,2001,p.45)


O sistema capitalista e neoliberalista trouxe junto com a influência da mídia o impulso ao consumismo, em que prevalece o status de poder e ter, sendo assim o status de ser professor, que antes ocupava lugar nobre na sociedade, agora é visto apenas como um trabalhador, sofredor que tanto trabalha para apenas pagar suas contas do mês. Este ideário neoliberalista também fez com que nossas crianças se privasse do prazer de brincar inventando, criar encenando ao acaso, ficando então fixas, imóveis, estáticas, enquanto o objeto é que se movimenta, age, fala, canta, brinca e faz tudo por ela, assim o desenvolvimento da curiosidade , da criatividade fica inato ao perceber que não será necessário pensar, agir, brincar e inventar no mundo moderno. A mídia influência a todos com suas propagandas, reportagem e rótulos de marcas poderosas a consumir cada vez mais a empregar todo seu salário no mundo capitalista em busca de status.
Enfim, Freire nos alerta para sermos educadores que compreende e reflete sobre a realidade em nossa volta, o ato de doarmos a educação nos renderá a satisfação de termos formados novos cidadãos críticos capazes de mudar a sociedade e termos um mundo mais humano. Esta formação começa na família , mas cabe a escola instituí-la, começando pela gestão escolar que deve ser democrática , visando um novo conceito que supera o enfoque da administração escolar e se refere à mobilização dinâmica e coletiva das pessoas, da energia e competência como condição básica e fundamental para melhoria da qualidade do ensino e a transformação da identidade da educação brasileira e das escolas.
O educador deve sempre ter a alegria de ensinar e saber escutar o educando, auxiliando nas decisões que precisa tomar e ter um comprometimento com a educação e a sociedade. Portanto, seguir a risca todas as práticas proposta por Paulo Freire é quase impossível, mas é necessário que as adaptemos a nossa realidade, tendo sempre a esperança de uma mudança na educação brasileira.

“O professor é o mediador do conhecimento, ele relata o caminho a ser percorrido, mas cabe ao educando descobri-lo e segui-lo.”
Cíntia G. Souza



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método de Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 2004 (coleção primeiros passos; 38)25ª edição·.
GARCIA, Regina Leite. A educação escolar na virada do século. 3ºedição, São Paulo, Cortez Editora. 2001
GENTILI, Paulo. A mecdonaltização da escola: A propósito de consumindo o outro. 3º ed. São Paulo, Cortez Editora.
FORTUNA, Tânia Ramos. A Reinvenção: a sobrevivência humana depende do cuidado que os adultos dedicam às crianças. É no presente da infância que nasce a expressão do futuro. Pátio Educação Infantil, Ano2 nº6, dezembro 2004/março 2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. 37 ed.Rio de Janeiro,RJ:Paz e Terra,2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 3ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975, p.67-8, 78-9.
LEVIN, Esteban. Rumo a uma infância virtual? A imagem corporal sem corpo. São Paulo. Editora Vozes Petrópolis
SITES PROCURADOS:
www.formosaonline.com.br/geonline/textos/economia/economiatexto08.htm
www.biografias.com.br
/paulofreire POSTAGEM DE CÍNTIA GERALDA DE SOUZA

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